A Profecia da Cigana
Entre memórias e encantamentos
Uma cigana cruzou o meu caminho.
Apareceu sem pressa, como quem já sabia para onde ia. Aproximou-se com um leve sorriso, pediu para ler minha mão e, com olhos misteriosos, foi revelando minha sorte.
“Tiveste grandes amores”, disse com voz embalada pelo vento, “mas o maior deles está por vir.”
Sorriu mais uma vez e partiu, como se desaparecesse nas brumas do destino.
Quem acredita em ciganas?
Lembro que, quando criança, morria de medo deles. Sempre que ia à escola, passava por um acampamento que costumava se instalar no cruzeiro, no alto da estação. Aquela mistura de liberdade e mistério me deixava inquieta.
Mas tudo mudou quando começaram a frequentar o sítio do meu pai, no bairro Areia Branca. Foi lá que o medo cedeu espaço à curiosidade e, confesso, na adolescência até paquerei um deles.
Homens e mulheres belíssimos, adornados de ouro e cheios de altivez, caminhavam como se dançassem com o mundo. Havia um encanto em cada gesto, em cada olhar.
O barô dos ciganos — sim, eu lembro — era Garcia. Tinha uma presença marcante e olhos de quem já viu muitas histórias. Era impossível passar por eles sem ser tocada por alguma faísca de encantamento.
Hoje, depois daquela profecia, sigo com o coração tranquilo e curioso.
Quem sabe o príncipe continua encantado?
Esperar por ele, com fé e poesia, já é uma forma bonita de amor.
Neide Rodrigues
Natal, 05 de setembro de 2024