O Voo da Garça
Por Neide Rodrigues
Desde menina, em Barra do Cunhaú,
Guardava no peito a doce visão:
A elegância dessa ave encantada,
Presença constante nos cais, na amplidão.
Nos portos, nos manguezais,
A garça busca alimento, ligeira
Na praia, entre o lodo e a cabaceira.
Seu voo é sopro de pura poesia.
De branco imaculada vestida,
Reflete no espelho das águas,
Como um sonho que nunca se apaga,
Silenciosa guardiã da vida.
A natureza ali era nosso abrigo,
O mar, meu consolo; o mangue, canção.
Ela desliza no céu, em rodopio,
Despertando em mim contemplação.
Em terras distantes, lá em Portugal,
Vi novamente sua forma sutil.
No cais, à beira de um ritual,
De vinho e silêncio tão gentil.
No Cais 43, meu refúgio,
Com doçura no cálice e olhar no mar,
E lá está ela...com seu júbilo,
Com sua graça a me acompanhar.
Não sei explicar, é só admiração,
É como amar sem precisar razão.
A garça me entende, em sua quietude,
Reflete minha alma em plenitude.
Portugal, 28 de abril de 2014