De Alma Lavada
Neide Rodrigues
(Releitura do poema “Namastê”, de Nina Costa, ES)
Quando eu botar pra fora minha alma,
Sem véu, sem máscara, sem enrolação,
Respeite, viu? Fique calado só olhando...
Porque alma da gente, quando se abre de verdade,
É coisa séria, é coisa santa,
É o grito mais bonito
Do que a gente sente lá no fundo do coração.
Se tu se espantar
Com o jeito escancarado da minha alma sem pano,
Num venha cuspir veneno,
Nem torcer o beiço de desgosto,
Nem se esconder com medo de se despir também.
(Coragem, meu filho, num se vende em mercadinho, não!)
Admire, mas com jeito,
Porque minha alma é flor do mato, é cheirosa, mas tem raiz.
Precisa de mão leve, de olho bom,
De quem sabe olhar pras coisa sem querer arrancar o que é bonito.
É preciso saber sonhar,
Com o pé fincado no chão batido,
Cuidando com jeito da esperança
Que mora nas pétala vermelha do meu coração danado.
Minha alma é água de cacimba,
Saindo limpinha do fundo da terra de casa.
Quem quiser se molhar nela, que se molhe,
Mas tem que saber nadar,
Porque tem hora que é calminha feito açude,
Mas tem vez que vira mar bravio, viu?
Tem que saber afundar e voltar sem se perder.
E se um dia tua alma arretada
Der de cara com a minha, sem se esconder,
Que elas se conheçam como irmãs:
Tua alma sem roupa, e a minha do mesmo jeito.
E que se abracem, se aqueçam,
Se façam morada uma na outra,
E se vistam juntas de paz,
De amor danado de bom,
Feito dois rios que viram um só.
Natal, 01 de julho de 2025
Nota da autora
Esta poesia é uma releitura, com linguagem coloquial nordestina, do poema original “Namastê”, de Nina Costa (ES). Feita com respeito e admiração pela obra original.