Amor que Fere e Cura
Neide Rodrigues
Amor é luz que nasce em noite escura,
É rio calmo a transbordar de dor,
É tempestade em alma tão segura,
É doce cárcere que prende o amor.
É chama fria que arde na ternura,
É gozo breve que persiste em flor.
É sombra leve, oculta em formosura,
É flor de espinho, pétala e temor.
É ter na ausência o peito mais repleto,
É rir chorando, por sentir demais,
É ser do céu e, ao mesmo tempo, abjeto.
Mas quem provou seus laços desiguais,
Sabe que amor, mesmo cruel ou quieto,
É o bem que nasce em laços imortais.
Natal, 10 de junho de 2025.
💥Este soneto foi livremente inspirado na estrutura e no lirismo do clássico de Camões.
Vocabulário:
Cárcere – Prisão, local de reclusão. Aqui usado de forma metafórica para mostrar que o amor, mesmo doce, pode aprisionar os sentimentos.
Gozo – Prazer intenso, satisfação. No contexto poético, representa a alegria passageira que o amor proporciona.
Formosura – Beleza delicada, encantadora. Palavra arcaica que enriquece o lirismo do verso.
Abjeto – Algo desprezível, rebaixado, humilhante. Aqui mostra o lado sombrio do amor, quando este leva à dor ou perda da dignidade.
Quieto – Silencioso, calado. No contexto do soneto, o amor que se manifesta de forma discreta, mas intensa.
Desiguais – Irregulares, assimétricos. Refere-se aos laços do amor que, por vezes, não são correspondidos da mesma forma, revelando desequilíbrios emocionais.
Imortais – Eternos, que não morrem. Expressa a ideia de que certos sentimentos amorosos transcendem o tempo.