Conversa com o Coração
Neide Rodrigues
Estávamos ali, eu e ele — o coração — num daqueles papos gostosos que surgem do nada, quando o silêncio da alma chama pra conversar.
— Minhas poesias estão tão solitárias, — disse eu.
Ele, com seu jeito meio moleque, respondeu:
— Está faltando um príncipe nelas!
Soltei uma risada.
— Príncipe? E onde, meu caro, eu vou encontrar um? Não vejo nem ao menos um pretendente perdido no reino da realidade.
Ele deu de ombros e provocou:
— Se não encontra alguém pra amar, inventa! O poeta tem esse direito. Um príncipe imaginário também pode ser verdade se mora dentro da gente.
Fiquei pensando... Será que devo acreditar?
Talvez sim. Porque enquanto não encontro quem me faça poesia com o olhar, eu sigo criando versos com a ponta da saudade, e quem sabe um dia, ele — o tal príncipe — surja montado nas entrelinhas de um poema qualquer.
Natal 15 de maio 2024