Silêncio Depois da Correria
Neide Rodrigues
Construí uma vida de tarefas,
de horários, metas e deveres.
Fiz do trabalho o meu abrigo,
do ofício, o meu convívio.
Ali, cercada de vozes,
me iludia com a presença de gente
— mas nunca houve companhia,
apenas ruído.
Chegava em casa exausta,
sem espaço para afetos,
sem tempo para vínculos.
O sofá era meu porto,
o cansaço, minha desculpa.
O tempo passou.
O expediente cessou.
E com ele, as vozes.
A rotina, antes tão cheia,
hoje ecoa vazia.
A solidão que sempre existiu
agora se apresenta nua,
sem disfarces.
Percebo, tarde demais,
que nunca estive cercada,
apenas ocupada.
Não vivi.
Apenas preenchi os dias.
Natal, 13 de maio de 2025