Flores de Um Tempo Que Passou
Neide Rodrigues
Aos dezesseis anos, Clara carregava no coração o brilho dos sonhos e a lealdade de uma amizade que parecia eterna. Sua melhor amiga chamava-se Helena, uma menina de sorriso fácil, coração generoso e beleza que não passava despercebida.
Helena tinha lindos olhos azuis que lembravam o céu claro das manhãs no interior. Seus cabelos loiros, cheios de cachos, caíam suavemente sobre os ombros, balançando ao vento como se dançassem com ele. De estatura pequena, tinha, no entanto, um corpo delineado, cheio de curvas, que chamava atenção por onde passava — mesmo sem querer.
Clara, por outro lado, era alta e esguia. Tinha os cabelos loiros, mas lisos como fios de seda. Seu corpo lembrava o de uma modelo, embora, na simplicidade da vida interiorana da época, isso não fosse valorizado como hoje. Pelo contrário, sua magreza rendia-lhe apelidos cruéis e risadinhas maldosas. Se fosse nos tempos atuais, chamariam de bullying aquilo que ela sofria em silêncio.
Apesar das diferenças físicas, Clara e Helena eram como metades de um mesmo coração. Dividiam segredos, sonhos e a vida que desabrochava diante delas como um jardim de possibilidades. A mãe de Helena, dona Margarida, era como uma segunda mãe para Clara. Sempre com um abraço acolhedor e palavras que soavam como bênçãos. Quando Clara se sentia incompreendida em casa, era nos braços de dona Margarida que encontrava refúgio.
A vida, no entanto, traça seus próprios caminhos.
Helena apaixonou-se cedo e casou-se aos dezoito. Clara deixou o interior em busca dos estudos e da vida na cidade grande. A despedida foi sem lágrimas, mas cheia de silêncio — como se ambas soubessem, no fundo da alma, que aquele adeus talvez fosse para sempre.
Os anos passaram. Clara soube que Helena formou família, continuou vivendo na mesma cidade. De vez em quando, alguém mencionava seu nome, e o coração de Clara se aquecia com as lembranças. Também soube que dona Margarida, aquela mulher que a acolheu como filha, havia partido anos depois. A notícia a tocou profundamente — foi como se um pedaço doce da juventude tivesse sido levado com ela.
Hoje, Clara vive rodeada de outras histórias, mas de vez em quando permite-se mergulhar naquelas lembranças. E escreve. Escreve com a esperança de que, talvez, em algum canto do mundo, Helena leia estas palavras e se lembre das tardes sob os cajueiros, das risadas compartilhadas, dos conselhos de dona Margarida, dos olhares cúmplices que só as amigas verdadeiras conhecem.
Porque algumas amizades, embora silenciadas pelo tempo, continuam vivas — florescendo dentro da alma como flores de um tempo que passou, mas jamais se apagará.
Natal, 12 de maio de 2025.
Minhas Memórias
Uma história real com personagens fictícios.