Ele Vive – Para Além do Calendário

Ano após ano, vejo Jesus morrer e ressuscitar. A liturgia se repete, as encenações emocionam, os fiéis se recolhem em silêncio. Mas dentro de mim, nasce uma pergunta: por que precisamos reviver os martírios e a dor se sabemos que Ele vive?
Não questiono por rebeldia, mas por busca. Sinto-me, às vezes, como Maria vai com as outras — respeitando tradições, acompanhando a multidão, ainda que o coração deseje mais do que ritos e datas.
Jesus venceu a morte. Ressuscitou. Está vivo. Isso já é sabido, sentido e vivido em minha fé. Será necessário vê-lo crucificado a cada ano para lembrar do amor que nos salvou? Ou será que precisamos aprender a reconhecer sua presença viva no cotidiano — no gesto simples, no perdão oferecido, na compaixão estendida?
Respeito a fé expressa em comunidade, mas anseio por uma espiritualidade mais viva do que ritualizada. Quero lembrar de Cristo não apenas na dor da cruz, mas na esperança do sepulcro vazio. Porque Ele vive — e é nessa certeza que minha alma descansa.

Neide Rodrigues
Canguaretama, 18 de abril de 2025