O Sabor do Caranguejo Gordo
Há coisas que o tempo não apaga, como o sabor inconfundível do caranguejo gordo da minha terra natal. Canguaretama era reconhecida como a terra dos “caranguejos uçar”, uma fama que se espalhava pelas redondezas. Diziam que os melhores meses para apreciá-los eram aqueles sem a letra R: maio, junho, julho e agosto. Nunca me preocupei em verificar se isso era verdade; para mim, qualquer tempo era tempo de saborear essa iguaria.
O manguezal da cidade, tido como um dos melhores do Rio Grande do Norte, era uma riqueza não apenas para o olhar, mas também para o paladar. Lembro-me das vezes em que chegavam os caranguejos fresquinhos, prontos para se transformar em um prato que era quase uma poesia. Preparados no leite de coco, davam origem a um pirão inesquecível, daqueles que pareciam abraçar a alma em cada colherada.
Na mesa, havia uma cerimônia quase sagrada. Famílias reunidas, risos compartilhados e o aroma do prato preenchendo o ambiente. Cada pedaço era saboreado com calma, como se quiséssemos eternizar aquele momento. E de certa forma, eternizamos.
Hoje, ao lembrar, sinto o gosto do caranguejo na ponta da língua e uma saudade que aperta o peito. Não é apenas do prato que sinto falta, mas de tudo o que ele simbolizava: simplicidade, comunhão e o orgulho de uma terra que sabia extrair do mangue suas melhores riquezas.
Ah, como queria voltar no tempo, sentar àquela mesa novamente e, com uma boa conversa, mergulhar no pirão que acompanhava o caranguejo gordo da minha infância. Mas, como o passado não volta, guardo comigo essas memórias, tão vivas quanto o sabor de um prato que era, e sempre será, único.
Neide Rodrigues, 12 de dezembro de 2024.