Neide Rodrigues Poetisa Potiguar
Oásis dos Versos e das Emoções
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links

O Anjo da Terra  

Homenagem ao meu pai Manoel Rodrigues (in memoriam)

 

Capítulo 1: O Primeiro Amor

O primeiro amor de minha vida foi meu pai. Com um coração generoso e uma presença marcante, ele nos ensinou a amar a terra que tanto amou, tanto quanto à própria vida. Agora, ele criou asas e voou por entre as árvores que conhecia tão bem, em busca de um novo lar nos céus.

Ele partiu silenciosamente, em paz consigo mesmo, sem uma palavra de adeus, sem um gesto de despedida. Apenas alçou voo com suas asas de anjo, rumo a um paraíso onde os céus são azul-turquesa, as águas mornas e claras, e os campos se estendem em um verde infinito. Eu creio que ele repousa em um lugar sereno, onde o sofrimento e a dor não têm lugar.

Capítulo 2: O Dia da Despedida

Em 14 de agosto, numa manhã de segunda-feira, o sol despontava com sua majestade habitual, aquecendo a terra. A sinfonia matinal dos pássaros e o cacarejo das galinhas no quintal soavam como uma composição de Beethoven, uma sinfonia de despedida. Era um dia marcado por uma serenidade inesperada, uma tranquilidade que parecia anunciar um adeus iminente.

O pequeno pedaço de chão que meu pai amava estava envolto em uma paz solene. Os animais, que sempre o acompanharam nas suas manhãs de trabalho, pareciam saudá-lo em seu voo final. Ele partiu como uma ave que se despede da terra que conheceu e amou, sem lágrimas, apenas um entendimento profundo de que era o momento certo para voltar para casa e renovar suas forças.

Capítulo 3: A Reação da Comunidade

Quando vejo e contemplo aquele corpo inerte, é impossível acreditar. Eu dizia a mim mesma que ele não podia ter feito isso comigo. Meu primeiro amor, o homem que partiu sem me avisar, sem a chance de nos despedirmos. O cortejo foi um tributo merecido, uma manifestação do carinho e respeito que ele inspirou em todos ao seu redor.

As pessoas queridas e mais próximas se mantiveram ao seu lado, cientes da falta que ele faria. A ausência de meu pai se faz sentir profundamente, não apenas entre os membros da família, mas também entre aqueles que ele adotou e cuidou durante tantos anos. O povo do bairro de Areia Branca, Catú e adjacências ainda é grato por sua bondade e dedicação. Ele lutou bravamente por vitórias que beneficiaram a população, sendo incansável e nunca se acovardando diante dos desafios. Não colecionou inimigos, pois era um homem de paz e amigo de muitos. Aqueles que não o fizeram, talvez não conheçam a verdadeira história de sua vida, suas lutas em defesa da comunidade, o homem sábio e guerreiro que ele foi.

Capítulo 4: A Lembrança do Amor

Hoje, envolta nas recordações do meu primeiro amor, sinto um passado que é paradoxalmente tão distante e, ao mesmo tempo, tão intensamente presente. O poder da nossa imaginação é verdadeiramente impressionante; minhas memórias são claras como o cristal, evidentes como o brilho de uma estrela, e os momentos que compartilhamos são vívidos como um filme em alta definição.

Revivo a alegria e a serenidade de um tempo vivido ao lado do meu protetor, meu porto seguro inabalável por décadas. Ele era, sem dúvida, um homem de uma robustez e uma dureza que pareciam intransigentes. No entanto, essa fachada era, na verdade, um escudo dedicado para proteger e abraçar aqueles que amava com um fervor imensurável.

Lembro-me com um carinho profundo das nossas noites de luar, quando juntos admirávamos "o cavalo de São Jorge" sob a luminosa e plena lua cheia. Caminhávamos pelas ruas da cidade e do bairro, de mãos dadas, e eu me sentia uma eterna sortuda por poder acompanhar aquele homem de passos largos, firmes e seguros. Era um orgulho imenso para mim seguir seu ritmo, sempre atrás dele, como uma sombra amorosa. Nunca haverá palavras suficientes para expressar a magnitude do meu amor e admiração por ele. A lembrança do meu pai, com seu amor incondicional e sua força protetora, permanece gravada em meu coração como um tesouro precioso.

Capítulo 5: O Legado 

Com o passar dos anos, percebo que a verdadeira magnitude do legado do meu pai não reside apenas nas memórias pessoais, mas no impacto que ele teve na vida daqueles que o conheceram. Sua vida foi uma aula de humildade e perseverança. Cada gesto de bondade, cada ato de coragem, deixou uma marca indelével na comunidade.

O bairro de Areia Branca, onde ele construiu uma vida de contribuição e amizade, ainda preserva a memória de seu trabalho incansável. Histórias sobre sua dedicação e suas conquistas são transmitidas de geração em geração, um testemunho silencioso de sua influência. Os jovens crescem ouvindo sobre o homem que transformou um pedaço de terra e tocou vidas com sua bondade.

Em cada esquina, em cada rua que ele ajudou a pavimentar, há uma memória viva de seu legado. As escolas e as instituições que ele apoiou ainda prosperam, testemunhas de seu compromisso com o bem-estar da comunidade. As pessoas continuam a falar sobre o "mestre" que nunca se esquivou dos desafios e sempre procurou fazer o bem.

Capítulo 6: A Saudade

A saudade me domina, uma mistura intensa de felicidade pelas memórias que vivenciamos e a tristeza profunda pelo vazio que deixaste em meu coração. Custa-me aceitar que alçaste voo para os confins dos céus, e, passados doze anos, o sentimento de saudade permanece eterno, como uma presença constante que molda meu cotidiano.

A dor da tua ausência é um eco que ressoa em cada canto da minha alma, mas também é acompanhada pela gratidão pelas memórias compartilhadas. Cada lembrança é um fio de ouro que entrelaça minha vida com o teu amor imensurável. Sinto um amor que continua a alçar voo em busca de ti, como uma ave que voa em direção ao horizonte, em um anseio infinito por um reencontro que, embora distante, nunca se apaga. Mesmo na ausência física, a presença do meu pai se manifesta em cada escolha que faço, em cada ato de bondade e generosidade que tento emular. Seu espírito vive em mim, guiando minhas ações e moldando meu caráter. E assim, enquanto continuo a viver e a buscar meu caminho, carrego comigo a eterna lembrança de um amor que transcendeu o tempo e a separação.

 

 

Neide Rodrigues, 29/04/2020


.

Reescrito em 31/07/2024.

 

Neide Rodrigues Potiguar
Enviado por Neide Rodrigues Potiguar em 31/07/2024
Alterado em 31/07/2024
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Comentários