Neide Rodrigues
Oásis dos Versos e das Emoções
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365 - TERRA DE MEMÓRIAS E ENCANTOS

Terra de memórias e encantos

 

Nasci em doce terra, numa Quarta-Feira de Cinzas,

Quando na estação ferroviária, o trem apitou nas brisas.

Minha história começou, memórias de pura magia,

Doces risos e encantos, que fazem o coração vibrar de alegria.

 

Na mercearia de Seu Euclides, um festival de delícias,

Seu Manoel Varela e o cacimbão de água cristalina,

Nos sonhos ao amanhecer, minha infância se desvelava,

Na terra que viu crescer em mim o amor pelas travessuras.

 

A cantina de seu Manoel Rodrigues, meu pai, era de sabores repleta,

Pintada de verde com barra vermelha, uma beleza que o tempo não afeta.

Prateleiras com aguardentes, quitutes e doces caseiros em fileira,

O chão de ladrilhos vermelhos refletia os candeeiros, cena tão verdadeira.

 

Meu pai, olhos esverdeados, sorriso fácil, simpatia que atraía,

Recebia a todos com carinho, sua cantina sempre cheia de alegria.

O caldo de cana moído na hora, um sabor que a vida adocicava,

O pão doce no ar, um aroma que a todos alegrava.

 

Sabores e aromas se misturavam, um ar bucólico a criar,

Na entrada, um chifre de boi, amuleto a saudar.

João, Gilson e Luizinho, amigos no vai-e-vem dos trens,

Segredos e sonhos, infância cheia de bens.

 

A compra de um sítio nos arredores, um novo lar a surgir,

Festas de São Sebastião, pastoris a se divertir.

Cordões vermelho e azul, Dianas e ciganas a cantar,

"Meu São José, dá-nos licença para o pastoril brincar..."

 

A simplicidade desses momentos, riqueza de amor e união,

Com Zuleide e amigos do bairro, cada festa era uma celebração.

Na Areia Branca, artesãs do barro, bejuzeiras de coração,

A água da gruta, transportada com cuidado e tradição.

 

Nosso transporte para escola Guiomar, era a jumenta, que um dia tropeçou,

Nos trilhos da linha de trem, ao chão nos lançou.

Mamãe se apavorou, escola mais próxima nos matriculou,

Na escola de Dona Hilda, a alfabetização a gente retomou.

 

Em uma festa junina, meu primeiro beijo aconteceu,

Com um garoto de família tradicional, um doce encanto floresceu.

Dias como melodias suaves, manhãs de sinfonias a brilhar,

A infância, uma partitura, cada nota a se eternizar.

 

No Ginásio, nova fase, riqueza cultural a absorver,

Professores de Natal, conhecimento a oferecer.

Morais e sua voz suave, Dr. Júlio com carinho a me chamar,

Dr. José Martins e a flor, Samuel Mandu a nos movimentar.

 

Na casa do padre Zilmar, com sua mãe Dona Mafalda convivi,

Hóstias na padaria de Seu Kerginaldo, aroma de pão a emergir.

À tarde, histórias na maré, com uma amiga a explorar,

Aos 14 anos, tive o coração cativado, amor inocente a recordar.

 

Na cidade, onde a maré beija a areia,

Eu e minha amiga, segredos trocados na aldeia.

A água cristalina, histórias de amor e de dor,

Ali aprendi os mistérios, do mundo o esplendor.

 

A pracinha da cidade, antigos sobrados ao redor,

O coreto que destruíram, deixou saudades e amor.

Dias de feira, rural de Damásio e o jipe de Antônio a destacar,

Cheiro de peixe e farinha, no mercado a se misturar.

 

Quiosques e memórias, Seu João Alves a nos abastecer,

Seu Zé Batista e dona Miriam, tradições a oferecer.

Encontros no coreto, brincadeiras na feira, sinfonia de infância e juventude,

Cada nota ressoa com amor, alegria e plenitude.

 

Minhas irmãs nos bailes, escondidas de papai, felizes a viver,

no Ginásio ou no Clube Municipal a dançar.

Blocos carnavalescos, Zé Wilson a organizar e mandar ver.

O Cine Luzitana e discotecas, a cidade a animar.

 

Nos dias de feira, a cidade ganhava vida e movimento,

O mercado fervilhava, um verdadeiro encantamento.

Rural de Damásio, jipe de Antônio, um show à parte,

E o cheiro de peixe fresco, que do mercado faz parte.

 

Nas noites estreladas, as festas juninas iluminavam,

Com fogueiras e balões, os céus de cores se pintavam.

Quadrilhas dançavam, um espetáculo de tradição,

A música, os risos, enchiam de alegria o coração.

 

Os sons do sanfoneiro, nas noites de São João,

Trazem à memória a pura emoção.

Danças e cantigas, ecoam na lembrança,

Um tempo dourado, vivido com esperança.

 

A cultura nordestina, rica em tradição,

Se reflete nas festas, na música e no artesão.

Cada verso e melodia, uma história a contar,

Do povo e sua terra, e o desejo de amar.

 

Festa da padroeira, um fervoroso festejar,

E os mártires de Cunhaú, histórias de fé a contar.

A cidade unida em devoção e alegria,

Celebrando tradições, mês a mês, dia a dia.

 

Nas festas de Natal, as luzes brilhavam com esplendor,

As ruas enfeitadas, repletas de cor.

As famílias reunidas, a magia no ar,

Compartilhando risos e sonhos, sem nada a faltar.

 

Na praia, o sol dourado, a brisa a nos embalar,

O mar a sussurrar segredos, na areia a nos encantar.

Dias de puro êxtase, sob o céu azul a brilhar,

Onde cada onda trazia sonhos para o mar.

 

O folclore presente, com danças e cantigas a ecoar,

A Nau Catarineta, aventuras no mar a narrar.

Histórias e lendas, que a alma faz vibrar,

Tradições e cultura, que o coração aclama sem parar.

 

Aos 17 anos, sonhos no coração, deixei minha terra natal,

Queria a Marinha, mas o sonho não se concretizou afinal.

Visitas à família, laço que me liga a adolescência passada,

Sítio dos meus pais, refúgio onde as memórias são guardadas.

 

Analisando minha jornada, riqueza e vibrância percebo,

Histórias de amigos e família, fragmentos de um tempo enredo.

Juventude de sonhos e rebeldia, sacrifícios em nome da união,

Verdadeira independência é tomar as rédeas da vida com devoção.

 

Grata pelas lições, esperançosa em seguir,

Experiências que moldaram, raízes a expandir.

Celebrando a vida como poetisa, memórias em canção,

Versos e histórias, eternas em inspiração.

 

Hoje, ao refletir, vejo quão rica foi a trajetória,

Cada momento vivido, um capítulo da minha história.

A cidade, as pessoas, cada canto e cada cor,

São lembranças eternas, guardadas com louvor.

 

Neide Rodrigues, poetisa de alma e coração,

Transcreve sua vida em versos, com emoção.

Cada rima, uma memória, cada estrofe, uma lição,

Assim, eterniza suas raízes, em conto, prosa e canção.

 

Neide Rodrigues, 01/07/2024

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Neide Rodrigues
Enviado por Neide Rodrigues em 05/07/2024
Alterado em 24/11/2024
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