Neide Rodrigues
Portugal... Terra onde o tempo parece sussurrar histórias de reis, rainhas e poetas imortais. Um lugar que, desde sempre, habitou meus sonhos – o lar de Fernando Pessoa, Luís de Camões e da doce Florbela Espanca, que tanto me inspiram.
Nunca imaginei que um dia voaria tão longe, deixando para trás o chão das plantações e o murmúrio calmo da minha cidade do interior. A vida, com suas voltas e reviravoltas, me trouxe um divórcio e a necessidade de mudar. Difícil aceitar, mas era como se o destino, com mãos invisíveis, me conduzisse para além do horizonte conhecido.
Então, agarrei uma oportunidade. E foi assim que Portugal me recebeu: com portas abertas, promessas de renascimento e histórias para preencher minha alma. Conheci um português, alto, de olhos azuis e fala mansa, que me ensinou que a vida pode ser doce, mesmo depois da dor. Juntos, descobrimos que mudar de ares era, às vezes, o remédio para a alma.
Lisboa, com seu casario antigo e ruas estreitas, foi o palco do meu encanto. Cada pedra parecia contar um segredo, cada janela, uma história de amor e luta. Era como se meus olhos dançassem entre a arquitetura e o sol dourado, maravilhados, em estado de graça.
Em Castelo de Vide, senti algo estranho: uma nostalgia profunda, como se tivesse regressado a uma vida que não vivi, mas que minha alma conhecia. Marvão, com sua fortaleza muçulmana, presenteou-me com pores do sol que aquecem o coração e fazem o tempo parar.
Percorri o Alentejo verdejante, onde as ovelhas pastam sob um céu infinito, e me perdi na doçura simples da vida que pulsa naquelas aldeias. Setúbal trouxe o sabor das sardinhas e o calor das tascas, enquanto a travessia pelo rio Sado revelou-me as cegonhas, mensageiras da vida e do renascimento.
Sintra ergueu-se imponente, com seus castelos guardando segredos de reis e rainhas. Eu ali, tocando a pedra fria, acreditando no impossível. E no Cabo da Roca, diante do mar e do céu que se beijam no infinito, compreendi que o mundo é vasto e cheio de magia.
Entre festas folclóricas em Évora e as caves de vinho do Porto, encontrei a alma do povo português: uma alegria que contagia e um respeito profundo pela história. Em Fátima, a espiritualidade me envolveu em um abraço silencioso, onde a fé se faz luz.
No Mosteiro de Alcobaça, a trágica história de Pedro e Inês me emocionou até as lágrimas. Aqueles túmulos, um diante do outro, prometem eternidade para um amor que nem a morte pode separar.
Voltei para casa com a alma dividida: uma parte minha ficou eternamente portuguesa, entre castelos, vinhos e histórias de amor. Aprendi que as mudanças, mesmo as dolorosas, são portas abertas para novas jornadas, para novas felicidades.
Portugal me transformou. E assim, meu coração passou a bater também nas terras de Camões.
Natal/RN, 08 de agosto de 2018