Neide Rodrigues Poetisa Potiguar
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03 - O PRIMEIRO BEIJO NÃO SE ESQUECE

  O primeiro beijo não se esquece


Sherry sentiu o sabor do seu primeiro beijo aos 11 anos, numa linda tarde junina, na escola do bairro onde morava. Foi seu primeiro e inocente amor. No entanto, ambos eram muito jovens e logo se separaram. Ela chorou por noites a fio, prometendo a si mesma não mais se apaixonar.

Aos 14 anos, ouviu seu coração bater forte outra vez por um jovem estudante de mecânica. Durante longas semanas, foi um amor platônico. Certo dia, numa das poucas vezes que ia ao centro da cidade, ela o viu sentado em um dos bancos da praça, próximo ao coreto. Engoliu seu orgulho em seco, esqueceu sua timidez por alguns segundos e se aproximou, cumprimentando-o com um simples e cordial "boa noite". Sentou-se ao seu lado e ficou em silêncio, como se anestesiada. Pensava no que dizer, mas nada coerente vinha à sua mente. Balbuciou algumas palavras baixinho, como se falasse para si mesma, ensaiando um texto teatral. Um monólogo foi fluindo e, em seguida, uma conversa surgiu naturalmente.

A partir daí, os encontros passaram a ser frequentes, sempre aos fins de semana, quando ele voltava para casa após uma semana de estudos na capital. Em um desses encontros, ele finalmente decidiu falar que tinha uma namorada. Um surto emocional a abateu, e Sherry decidiu se afastar para tentar esquecê-lo.

Passados alguns longos e pesarosos meses, numa dessas casualidades da vida, em meio aos festejos da padroeira da cidade, encontram-se novamente. Seu coração a trai, e toda a situação volta à tona. Embaraçada, com o coração palpitando anormalmente, cruzam olhares e se cumprimentam. Ela segue friamente, mas ele a segura pela mão, puxa-a para si e a abraça. Acontece então aquele tão querido e esperado beijo.  

Ela o afasta, assustada, com as faces de cor rubi. Derretida, entrega-se àquele doce abraço. Nesse momento, confessa que o ama e que sente sua falta, mas que precisa se manter afastada. Ele a questiona, mas, mesmo querendo ficar, ela permanece firme e decidida, e se vai.

O vai e vem de pessoas a deixa encabulada, e suas pernas tremem de emoção diante daquele momento inesperado. Ela se despede e segue para o seu destino, mas antes, vira-se disfarçadamente. Ele continua lá, parado, olhando-a fixamente. Ela quer voltar, mas sabe que não deve. Continua a caminhar, agora com passos lentos e firmes, pensando e murmurando para si mesma: "Ele tem uma garota, não posso retroceder."

Após várias semanas de noites mal dormidas, lágrimas sentidas e coração sangrando, Sherry decide ir atrás de seu amado. Monta em sua bicicleta e pedala até o centro da cidade, à procura dele, perguntando aos amigos que encontra pelo caminho se o viram. Sem sucesso, cansada, com os olhos lacrimejantes e coração partido, desenganada, ela volta a pedalar. De repente, ao longe, o vê sentado na calçada lateral da igreja matriz. Encosta a bicicleta e vai levemente em sua direção, tentando não ser vista. Seu coração descompassado quase denuncia sua chegada. Silenciosamente, senta-se ao seu lado. Só então ele percebe sua presença e sorri. Nada dizem, pois seus olhares expressam tudo o que precisam, mais do que palavras poderiam.

Beijam-se sofregamente, e o coração de Sherry finalmente sossega, feliz. Aos poucos, acalma-se, e os batimentos cardíacos voltam ao normal. Deleita-se no momento lindo e maravilhoso, único, de um amor contido que encontrou, nas fraquezas, a coragem necessária para aquele encontro. Foi a mais linda de todas as tardes.

Mas o momento da despedida chega. Ela tem um longo caminho de volta para casa e não pode se atrasar. Despedem-se com promessas de outros encontros nos fins de semana, que passam a ser costumeiros.

Em um certo e amargo dia, inesperadamente, Sherry o encontra aos beijos com outra garota. Seu coração se parte, seus sonhos se desfazem, e a decepção invade seu ser. O dia se torna negro aos seus olhos. Sem que ele a perceba, ela se afasta dali. Talvez o orgulho tenha sido o culpado por ela não voltar a procurá-lo. Ela decide partir para a cidade grande, em busca de novos horizontes e motivos para seguir em frente. Fecha-se, tentando não amar outra vez. Surgem propostas, mas ela as rejeita todas, punindo-se covardemente.

Passaram-se anos... Ele se casou, ela também, ambos com pessoas diferentes e se mudaram de cidades. Mais de 30 anos depois desse acontecimento, ela, agora divorciada, o reencontra em um shopping na capital. Fica surpresa, mas disfarça bem. Só então percebe que aquele amor nunca deixou de existir, que ainda vive dentro dela. Fala consigo mesma para o coração se aquietar. Ele está casado, viver esse amor é impossível. Reviver tudo isso é um tormento. Ele a convida para um encontro, mas ela se nega a viver esse amor proibido.

Reencontraram-se muitas vezes em festas de amigos em comum. Esses encontros são desconfortáveis, desconcertantes e incômodos, mas também inevitáveis. Ambos têm conseguido dominar suas emoções, mas arrancar esse amor do coração é uma batalha constante.

... E assim os anos se passam…  

Entretanto, houve outros romances e companhias que amenizaram sua solidão e dor. Contudo, esquecê-lo, deixar de amá-lo, nunca foi possível.




Neide Rodrigues, poetisa potiguar em  06/08/2018
Reeditada em 08/06/2024  
Neide Rodrigues Potiguar
Enviado por Neide Rodrigues Potiguar em 06/08/2018
Alterado em 08/06/2024
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